quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cerâmica LALU & Solange Nazareth

    
 Eu era pequena e brincava muito na cerâmica da minha mãe, SOLANGE NAZARETH!
Uma fábrica que ficava no Rio Comprido, tinham 3 fornos gigantes, dois tornos, sala de esmaltação e festa de fim de ano com os quatro funcionários e seus familiares.
Minha mãe formou todos os melhores oleiros e esmaltadoras que tem aqui no Rio, e isso dá muito orgulho!!!
Convivi com o cotidiano da pequena fábrica desde sempre, ser a filha da "Dona da Cerâmica", me rendeu um vício que eu lembro até hoje o gosto, lamber as peças queimadas antes de serem esmaltadas,
o "biscoito". Peças enfileiradas, eu lambia uma por uma, na verdade não lambia deixava o barro absorver a minha saliva era muito gostoso, srsrsrsrsrs e o que me rendeu uma giárdia terrível, depois disso fui naturalmente proibida de fazer tal atrocidade.....
Brincava no torno, organizava a estante do mostruário, carimbava papéis, embrulhava cerâmicas para presentes, escolhia novas ceres de esmalte, e com a minha avó, sempre por perto, a gente inventava o que fosse e ela fazia, essa era a LALU.
LALU também era o nome da cerâmica, por que foi em 1967 que minha avó recém separada do meu avô, no quintal de sua casa em Ipanema começou a fazer peças para ganhar dinheiro.
Todas as peças tinham um carimbo "LALU, feito a mão".

Ai como doi, escrever esse post. Mas não é dor. é saudade calcificada....
Pois bem, o que mais me traz alegria é ver a quantidade de pessoas que amavam as peças da cerâmica, e como elas ainda falam das peças com tanto carinho e cuidado. Os clientes muitas vezes se tornavam grandes amigos de minha mãe, tinha praticamente toda a sociedade de psicanálise como clientela, fora todos os restaurantes dos espanhóis de Ipanema, Leblon e Copacabana, restaurantes italianos, a Loja do Bom Desenho, o Favela Chique em Paris, a casa do Importante Ministro Japonês, e muitos,
muitos amigos.
Outro dia um aluno meu da Escola de Cinema Darcy Ribeiro, me disse que havia feito um churrasco e comido na cerâmica da minha mãe, sem entender bem, posto que ele não conhecia a minhã mãe, me tocou de um jeito tão especial, que eu entendi o que realmente a minha mãe fez, e até onde ela chegou e como ela conquistou tantas pessoas queridas, fazendo cerâmica.
Até o alguidar de macumba ela colocou nas nossas mesas!
Além de peças de arte, eram peças de apego profundo, de carinho, objetos de desejo!!
Hoje, as pessoas tem as peças como relíquias, muitas delas me oferecem algumas que tem em casa, por que sabem que cada cor, cada forma é especial e que não serão mais repetidas, é como se por amor eles quisessem me dar um pedacinho da minha mãe de volta pra mim, e isso é lindo.
Fazem 4 anos, que de muito doente, minha mãe virou aquela estrela, aquela que os reis magos viram,
e a cerâmica fechou.
Mas as peças ficaram nas mesas, nas estantes, nas mesinhas, nos corações de quem usa e guarda com profundo cuidado como uma relíquia um pedacinho da minha mãe.

Fiz um bazar, um ano depois de sua ida, com as ultimas peças.
Foi como ver todos os amigos da minha mãe conversando com ela, ao embrulhar, pegar e empilhar as peças, ou dizendo era assim que ela embrulhava..."era assim que ela fazia com o seu carrinho do lado!"
Acho que agora eu entendo, como ela era feliz fazendo as pessoas se apaixonarem pela sua arte.
Muitas saudades, mãe!
 
 

5 comentários:

  1. Caramba eu não soube desse bazar .... eu tb pude durante um tempo acompanhar o trabalho da sua mãe e da lalu.como o tempo passou depressa !!
    fiquei de comprar um cinzeiro daqueles imensos com fundo de bolinha , vc ainda tem pra vender?
    Bj sminha linda

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  2. Luiza, que emoção boa vc me deu! Saudades de Solange...voltei no tempo...conheci a cerâmica desde o quintal de Lalu, em Ipanema. No final da década de 60, cheguei a trabalhar na Barranco, no Bar Vinte, junto com sua mãe. Conheci mto a fábrica do Rio Comprido onde ia sempre que queria comprar presentes, ou simplesmente para visitar Sô. Bjs, Marina

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  3. Eu era tão louca pela cerâmica da Lalu que acabei fazendo cerâmica em Sãao paulo.Mas não cheguei nem perto da beleza e qualidade.
    Ainda tem alguma peça delas para vender?
    Abraços candida

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Oi, Luiza, que bom te achar aqui e ler esse texto tão bonito... até eu tenho um cinzeiro da "Lalu" ! beijos a vc, Mariana e Pedro.

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Luiza Nazareth

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Para não travar de fato, já que sou de época, resolvo a custa de muita pilha externa (digo meus amigos), escrever aqui e jogar tudo o que der na telha, eu falo muito, eu rio muito, eu vivo muito, valvula de escape, vontade e desejos.... Sejam bem vindos!!